Entrevista com Roberto Bueno – Parte 1

5 03 2009
Crédito: Gabriel Oliveira

Crédito: Gabriel Oliveira

Como prometido, aí vai a primeira das três partes da nossa entrevista recente com Roberto Bueno, atual presidente da OMB-SP. A conversa ocorreu na sede da Ordem, localizada na Avenida Ipiranga, centro de São Paulo. O maestro, casado e pai dois filhos, é quase 30 anos mais jovem do que Wilson Sandoli, que foi presidente nos últimos 40 anos.

É importante lembrar que na última vez em que havíamos entrevistado Bueno, então vice-presidente de Sandoli, ele não hesitava em defender ferrenhamente o presidente, definido como uma “pessoa de bom coração”. Hoje, estarrecido pelas irregularidades encontradas na gestão (que você verá na parte 2 da entrevista), Bueno se diz traído pelo antigo amigo. Ele lacrou a porta da OMB que dava de encontro com o Sindicato dos Músicos de São Paulo, ainda sob presidência de Sandoli, e o impede de entrar na Ordem.

Veja abaixo a entrevista inicial, que fala sobre o processo de transição da presidência de Sandoli para Bueno.

Sonho de Ordem: O senhor era vice-presidente da OMB de São Paulo. Quais foram as circunstâncias para o senhor assumir a presidência? Como foi o processo de eleição?
Roberto Bueno:
Tudo começou no dia 1º de outubro de 2008. Foi feito um acordo entre o Conselho Federal da OMB e o Conselho Estadual, para que se fizesse uma auditoria no estado de São Paulo, através de um acordo extrajudicial. Foi definido que eu assumisse a responsabilidade dessa auditoria até o dia 31 de dezembro, ou seja, seria o presidente interino neste tempo. Sem a constatação de irregularidades, o Wilson (Sandoli) voltaria a assumir. Eu estava jogando às claras.

Sonho de Ordem: O que motivou a intervenção do Conselho Federal aqui?
Bueno:
A dívida do Conselho de São Paulo com o Federal, que ele não pagava.

Sonho de Ordem: Como foi a auditoria?
Bueno:
Eu chamei a Rosa, secretária do Wilson, e marquei uma reunião com todos os 21 conselheiros na mesma semana. Cheguei na sexta-feira e não tinha reunião alguma. Ele não tinha convocado ninguém. Fui falar com o Wilson e ele disse que era melhor deixar tudo do jeito que está e pronto. Eu disse: “é isso que o senhor quer?”. Ele disse: “é”. Eu virei a costas e liguei para Brasília. Falei que ou eles interfeririam naquele momento ou eu pediria a renúncia. Falei que queria o advogado de Brasília, uma equipe de segurança – pois eu sabia com quem estava lidando – e uma empresa de auditoria.

Sonho de Ordem: E eles vieram?
Bueno:
Sim, na terça-feira seguinte estavam aqui cinco seguranças, o advogado do Conselho Federal, um advogado do que foi contratado aqui em São Paulo e a empresa de auditoria. Quando o Wilson chegou aqui no horário normal dele, só que ele não poderia entrar mais. O homem ficou louco. Eu disse para ele entrar na sala acompanhado por seguranças e tirar seus pertences pessoais, pois seria realizada a auditoria durante três meses.

Sonho de Ordem: E como o senhor chegou à presidência?
Bueno:
Houve uma nova eleição e o Wilson se candidatou. Eu também participei, só que com outra chapa. Dos 21 conselheiros, 19 votaram a nosso favor, e nós já sabemos quem foi contra. Aí fomos eleitos efetivamente. Depois disso, ele tentou impetrar mais um monte de mandados de segurança para voltar, mas tudo saía pela culatra, pois o juiz já tinha provas. Uma verdade vale mais de um milhão de mentiras. Foi tudo indeferido.

Sonho de Ordem: O senhor não desconfiava?
Bueno:
Eu era amigo dele, confiava nele. Me considero um cara 100% enganado. O vice aqui era um estepe, nunca fui usado. Não tinha poder de nada, só se o presidente morresse. Os pagamentos dos funcionários estavam todos atrasados. Desde que eu entrei, não há atrasos, pode perguntar para as pessoas aqui. Tenho um apoio maciço de todas as escolas de música, coisa que o Wilson não tinha.

A segunda parte da entrevista você confere nesta sexta-feira, com Bueno falando sobre as irregularidades encontradas pelo Ministério Público na administração Sandoli.





What?!

1 03 2009
Serginho "numa nice" com o Chimarruts

Serginho "numa nice" com o Chimarruts

“Não lhe trago ouro, porque ele não entra no céu”.

Vocês já ouviram isso?

Não tem jeito. Vira, mexe e remexe a gente se depara com algumas coisas na música brasileira que nos dão aquela sensação de “vergonha alheia”.

Sabe? Quando você vê uma pessoa passando por algo tão escancaradamente ridículo que temos vergonha por ela?

Ontem pela madrugada vi, no Altas Horas, programa que eu considero e muito, a banda Chimarruts cantando sua “canção de trabalho”.

A situação era tão constrangedora que eu sentia vergonha por todos que estavam lá, cantando em coro, a primeira frase deste post.

O próprio Serginho Groisman, que leva tanta gente boa no seu programa, terminava ovacionando a banda, seja por pura política, seja porque de fato estava adorando aquilo. Duvido(?).

Eu sempre me pergunto: como uma pessoa sensata tem a coragem de apresentar uma coisa dessas em público? Sim, porque não é possível que ela acredite que aquela “sacada” do ouro no céu tenha sido genial. E ainda completa em seguida: “Não te trago flores,porque elas secam e caem ao chão”

What?! Dá pra não ter vergonha?

Um prato cheio para esta linha de trabalho é a Nova Brasil FM, rádio de São Paulo. Depois de algum tempo distribuindo em sua programação boas músicas (de ontem e de hoje), começou a acreditar no sucesso da Geração Trama – aquela dos filhos de Jair Rodrigues, Elis Regina, Tim Maia, etc. Não deu certo, ela desencanou de qualquer pudor, e hoje toca Fresno, Biquini Cavadão e Engenheiros do Hawaii sem dó. E Chimarruts. E todas as seguidoras de Ana Carolina na sequência.

Qualquer música para ter sucesso hoje tem que ser simples. Ter de 3 a 10 acordes no máximo. E ter letras típicas da música sertaneja dos anos 90, seja em ritmo de pagode ou rock.

Mesmo as bandas e cantores que começaram apresentando boas novidades hoje bóiam a favor da maré.

E a galera D-E-L-I-R-A.





Sonho de Ordem

27 02 2009

Como dito no primeiro post, este blog é resultado de outros trabalhos sobre a organização política dos músicos e sobre a OMB.

No Ode! (www.ode.blogger.com.br), eu já havia disponibilizado o Sonho de Ordem – Divergências na Ordem dos Músicos do Brasil em PDF, para download.

E agora deixo o arquivo também disponível aqui para download. Clique para baixar!

Colaboraram com o livro algumas das mais importantes figuras na oposição ao ex-presidente Wilson Sandoli, como Eduardo Camenietzki, Amilson Godoy, Osmar Barutti, Nelson Ayres, Fredera, etc. Além do próprio Sandoli, do presidente federal João Batista Vianna e do atual presidente paulista Roberto Bueno.

Continuem por aqui, porque o trabalho continua!





Novos ares!

27 02 2009
O atual presidente da OMB - SP, Roberto Bueno

O atual presidente da OMB - SP, Roberto Bueno

Este blog não tem o intuito de começar ou terminar nada.

Ele continua um trabalho que tem sido feito desde 2007, de estudo da organização política da classe musical brasileira e consequentemente seu mais antigo e atrasado mecanismo: a Ordem dos Músicos do Brasil.

Este blog começou no Ode! (www.ode.blogger.com.br), continuou no livro Sonho de Ordem e agora ganha vida nova no Word Press.

É o Ode! e o Sonho de Ordem em um só trabalho.

Sim, Wilson Sandoli deixou a presidência da Ordem dos Músicos paulista, cargo que ocupava há 40 anos, desde que foi indicado por um de seus parentes influentes da ditadura.

Sandoli foi perdendo força aos poucos, geralmente pelas mãos de seus próprios aliados. Foi assim na OMB federal, quando o coronel João Batista Vianna comprou e venceu a briga.

O coronel ampliou seu poder neste ano, quando ordenou intervenção na Ordem paulista, destituindo Sandoli e instalando auditoria através do vice-presidente Roberto Bueno, hoje o novo presidente da entidade. Sandoli perdeu em casa.

Agora, resta saber o óbvio: de fato, haverá mudanças? O “interventor” promete que sim, que elas já estão ocorrendo, e que se sente traído pelo ex-presidente.

Porém, é impossível não observar o novo quadro e perceber que a figura de Sandoli ainda está muito presente na entidade. Até mesmo no fato de seus sucessores serem seus ex-aliados.

Indagado sobre se Sandoli preparava alguém para sua sucessão, Bueno foi rápido: – não tenho conhecimento, mas eu não fui!, garantiu.

O Ministério Público agora estuda os anos da “Ditadura Sandoli”, e no primeiro pente fino já observou absurdos como a compra de armas, carros, cheques em nome do ex-presidente e até mesmo o enterro da ex-mulher do mesmo, no valor de 80 mil reais.

O que separa Sandoli e a OMB hoje é a divisória de tapume que Bueno mandou instalar para dividir a Ordem e o Sindicato dos Músicos, órgão que ainda tem Sandoli como presidente.

O Sonho de Ordem prepara a divulgação da entrevista que eu, Lucas Caram, e meu colega André Carbone, fizemos com Roberto Bueno na sede paulista da OMB, para as próximas semanas. O Ministério Público e o próprio Sandoli também serão publicados.

Continue conosco e seja muito bem-vindo!